sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O peso da faxina

Quando viajei para o interior de Minas Gerais em busca de calmaria para a alma, residi em uma casa onde os valores eram confusos.
Habitei esse lugar por 33 anos, mas sempre ia e voltava, e mesmo assim aquela senhora que trabalhava nos afazeres domésticos uma vez por semana sempre estava na casa.
Uma casa grande, onde reuniam-se todos os familiares para as festas, e mesmo que não fosse data comemorativa havia festas.
Essa inquietude que estava comigo, e aquelas pessoas festejando, me fez lembrar de uma frase, a felicidade deles é muito alta, mas eu me questionava onde estava minha felicidade, logo eu uma pessoa que vivia de pessoas, do meio delas, de relações complicadas mas cheia de amor, ou questionava se a felicidade deles é verdadeira.
Hoje aqui escrevendo me recordei de todos esses pesares, e dessa senhora, e sempre honrou com seu compromisso de limpar aquela casa para seus habitantes.
Esse seria um valor para se ter a felicidade, e sempre encontrar novas pessoas em sua vida.
Enquanto espera-se a cozinheira para o jantar, a mesma não avisa e se ausenta, e a acusamos de descompromissada, mas isso é claro pois a mesma nunca disse o motivo de sua ausência.
Mas na mesma sexta-feira do jantar, a faxineira estava na casa a limpar cada cômodo, e eu aqui observando tudo, decifrando cada presença, e cada ausência, e o mais importante, cada permanência.
Será essa senhora refém de uma vida sem conhecimento ?
As suas respostas ela encontra em cada casa que varre ?
Ela varre suas amarguras, temores e solidão em cada faxina ?
Com quase 80 anos ela honra cada sexta-feira, seu compromisso em limpar aquela casa, para aquela família, que em um próximo final de semana se reunirá para uma nova comemoração.
 Depois de cada tempo observando suas idas e vindas, eu saberei o valor que essa senhora tem para a minha vida.